Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

domingo, 3 de agosto de 2008

As pessoas apenas precisam de amor!


" A indiferença foi seguida pelo medo, por um medo não muito forte: temia perder esta vida salvadora, este trabalho salvador de aquecer água, este céu alto e frio e as dores nos músculos gastos. Compreendi que tinha medo que me mandassem para as minas, tinha medo e não havia nada a fazer. Na minha vida, quando me sentia bem, nunca procurava sentir-me melhor. A carne nos meus ossos aumentava de dia para dia. Inveja, eis o sentimento a seguir que se apoderou de mim. Tinha inveja dos meus camaradas que morreram em 38. Tinha também inveja dos vizinhos vivos que possuíam alguma coisa para comer e fumar. Só não tinha inveja do chefe, do contramestre, do responsável pela brigada, porque isso era outro mundo.
O amor não voltou a mim. Que distância separa o amor da inveja, do medo, da raiva! As pessoas apenas precisam de amor! O amor chega quando todos os sentimentos humanos já voltaram. O amor é o último a chegar, o último a regressar. Mas regressará ele ? A indiferença, a inveja e o medo não foram as únicas testemunhas do meu regresso à vida. A piedade para com os animais voltou antes da piedade para com os homens. "

Excerto do conto " A sentença", de Varlam Chalamov, Trd. José Manuel Milhazes Pinto

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" Muitas vezes, meu caro senhor, as aparências iludem, e quanto a pronunciar uma sentença sobre uma pessoa, o melhor é deixar que seja ela o seu próprio juiz. " Robert Walser

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