R.C. - Apesar dessa inevitabilidade, a verdade é que o continente europeu vive o mais longo período de Paz da sua história, é um espaço totalmente democrático, com uma economia de mercado plena e com muitos sectores capazes de competir numa economia totalmente global.
M.C. - Tudo quanto refere é exacto. Talvez por isso mesmo a Europa «evite» enfrentar as ameaças que estão a acumular-se. O seu êxito económico e social, posterior à Segunda Guerra, não encontra um precedente histórico conhecido.
Mas as bases em que assentou mudaram radicalmente: o grande crescimento da produtividade e da economia, o pleno emprego, o equilíbrio demográfico, a hegemonia da actividade industrial, o eficaz intervencionismo do Estado através das políticas monetária e cambial, alfandegária e orçamental, o controlo do investimento estrangeiro, acabaram.
Tudo isto se perdeu e ainda mais as amplas zonas do mundo que lhe forneciam matérias-primas baratas e lhe compravam uma boa parte das produções industriais.
Nenhum destes factores de prosperidade e de influência política sobrevive hoje. Pelo contrário, temos uma produtividade que cresce muito pouco e economias com modestos comportamentos, desemprego elevado, envelhecimento demográfico, supremacia dos serviços sobre a indústria, dependência externa dos fornecedores de matérias-primas, esvaziamento completo dos poderes de intervenção e de controlo público.
Os europeus pensaram e pensam que todos os benefícios e privilégios eram aquisições definitivas e incondicionadas. Não entenderam que houve alterações profundas no mundo, que impõem novos esforços, renúncias, reformas e sacrifícios.
A expansão sem limites era uma fantasia.
E os dirigentes políticos não o querem explicar porque lhes convém alimentar a esperança de que é sempre possível prometer mais e melhor.
Dizem que isso é «política».
Eu digo que é engano e que trará maus resultados.
Excerto de " O dever da Verdade ", de Medina Carreira e Ricardo Costa, Ed. D. Quixote
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