" E assim, são as coisas que se vão sedimentando dentro de nós, como um lixo morto, a apodrecer. De cada vez que alguma coisa mexe dentro de nós, voltam a mexer essas coisas. E com o passar do tempo, o facto de teres ido embora já não magoa tanto como no início, nem de longe, mas ainda assim é algo que dói. Deitas-te à noite na cama com isso, e acordas com isso de manhã. Eu fui pugilista e toda a minha vida fui serralheiro, um artesão. Não tenho mais do que as minhas mãos. E isto é como tivesse perdido uma mão. E é assim que te dói; como pode doer uma coisa que não tens e apesar de não a teres. A última coisa que vês quando vais deitar-te é a manga vazia; e a primeira que vês quando abres os olhos de manhã é a mesma manga vazia. E assim vai ficar enquanto estiveres vivo. Se queres sobreviver, tens de te acostumar, por mais que isso te parta o coração... "
Excerto de " Abóboras em flor ", de Dragoslav Mihailovic, Trd. Lúcia e Dejan Stankovic, Ed. Cavalo de Ferro
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