«Há uma atitude no Ocidente que é dizer: "Ah, o problema dos americanos foi tentarem impor a democracia a um povo que não estava preparado para ela." Acredito firmemente no contrário. Os iraquianos queriam democracia, esperaram prosperidade, paz, modernização, e os americanos não trouxeram nada disso.
Todos os dias ouço essa atitude no Ocidente: "Sabe, essas pessoas são assim, nós também éramos, com o tempo as coisas mudarão." É a atitude de considerar que não precisamos de ter princípios quando atravessamos o mar, porque respeitamos a especificidade. Isto é profundamente hipócrita. Não é verdadeiro e é contraproducente. A aspiração das nações, das pessoas em toda a parte, é praticamente a mesma. As pessoas querem viver melhor, querem vidas melhores para os filhos, mandá-los para a escola. Em toda a parte querem viver com dignidade.
O que acontece às vezes é que não lhes é dada alternativa. Há um ditador e a forma de as pessoas se organizarem é a religião. E todo o discurso se desenvolve a partir daí. Quando a verdadeira aspiração não é essa.
Não penso que haja no islão algo que impeça as sociedades de se tornarem democráticas, modernas, avançadas.
Precisamos de olhar para "o outro" como um vasto mundo de diferentes línguas, tradições, crenças. Há países islâmicos com eleições abertas, por exemplo, hoje mesmo, a Indonésia. A vasta maioria dos indonésios não vê contradição entre democracia e crença, e é a mais populosa nação islâmica do mundo. Isto pode acontecer em qualquer lado. A Indonésia teve uma mulher presidente, o Bangladesh, o Paquistão, a Turquia tiveram mulheres primeiras-ministras. Podemos empurrar as pessoas para o pior de si, mas é mais responsável empurrá-las para o melhor.
Se resolvermos o problema do Médio Oriente e as relações entre Ocidente e mundo islâmico, talvez as pessoas mais teimosas fiquem isoladas e não sejam capazes de mobilizar massas.» ler aqui entrevista completa.
Entrevista de Alexandra Lucas Coelho a Amin Maalouf, publicada no P2(Público) de 10/07/2009
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