Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Nada surpreende a natureza...


Fotografia de Gian Paolo Barbieri

" Eu fiquei de pé, a cabeça curvada, os braços caídos ao longo do corpo. A chuva atravessava-me o cabelo, chegava-me às sobrancelhas, escorria-me pelas faces como lágrimas e caía-me do queixo em grandes gotas. Às vezes gosto de me abandonar aos elementos. Nunca fui pessoa para adorar a natureza, mas reconheço um certo calor terapêutico na contemplação dos fenómenos naturais;penso que isto tem a ver com a indiferença do mundo, quer dizer, com o modo como ele não se preocupa connosco, com a nossa felicidade, com o nosso sofrimento, a maneira como ele se limita a esperar com um olhar superior, murmurando para si próprio numa linguagem que nunca compreenderemos. Mesmo uma pessoa como eu pode aprender a ser humilde perante esta lição de resistência e de limitadas ambições. Nada surpreende a natureza, acontecimentos terríveis, os mais horrorosos crimes, deixam o mundo indiferente, posso assegurá-lo. Alguns acham isto sinistro, bem sei, e esbracejam às cegas exigindo uma resposta que não existe nem mesmo pelo fogo. Eu por meu lado sinto-me reconfortado por esta indiferença universal..."

Excerto de " Fantasmas ", de John Banville, Trd. Artur Ramos, Ed.Publicações D.Quixote,1995

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" Muitas vezes, meu caro senhor, as aparências iludem, e quanto a pronunciar uma sentença sobre uma pessoa, o melhor é deixar que seja ela o seu próprio juiz. " Robert Walser

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