Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Acerca do trabalho...

1)«O que está a passar-se é, em todos os aspectos, um crime contra a humanidade e é desta perspectiva que deveria ser objecto de análise em todos os foros públicos e em todas as consciências. Não estou a exagerar. Crimes contra a humanidade não são somente os genocídios, os etnocídios, os campos de morte, as torturas, os assassínios selectivos, as fomes deliberadamente provocadas, as poluições maciças, as humilhações como método repressivo da identidade das vítimas. Crime contra a humanidade é o que os poderes financeiros e económicos dos Estados Unidos, com a cumplicidade efectiva ou tácita do seu governo, friamente perpetraram contra milhões de pessoas em todo o mundo, ameaçadas de perder o dinheiro que ainda lhes resta e depois de, em muitíssimos casos (não duvido de que eles sejam milhões), haverem perdido a sua única e quantas vezes escassa fonte de rendimento, o trabalho.»
2)
3)" Se os trabalhadores recusarem, de comum acordo, o trabalho, o patrão, que é um homem rico, pode esperar, sem se arruinar, que a necessidade os faça voltar; mas os trabalhadores precisam de trabalhar todos os dias para não morrerem, pois a única propriedade que possuem é a força dos seus braços. Desde há muito que a opressão os empobrece, mas também é mais fácil oprimi-los à medida que vão ficando mais pobres - eis um círculo vicioso do qual não sabem como sair.
Portanto, não nos deve surpreender o facto de os salários, depois de terem subido por vezes muito depressa, baixarem de modo permanente, e noutras profissões em que o custo do trabalho só aumenta pouco a pouco subirem continuamente.
Este estado de dependência e de miséria em que se encontra uma parte da população industrial dos nossos dias é um facto excepcional e contrário a tudo o que a rodeia. Mas, precisamente por isso, não há outro que mereça mais a atenção particular do legislador, pois, quando toda uma sociedade se movimente, é difícil imobilizar uma determinada classe e, quando a maioria dos homens descobre constantemente novas vias de enriquecimento, é difícil obrigar alguns a suportarem pacificamente o fardo das suas necessidades e dos seus desejos."

1) Excerto de artigo de José Saramago," Crime (financeiro) contra a humanidade", publicado no Expresso e no seu blogue.
2) Sex pistols-anarchy in uk
3) Excerto do capítulo " Influência da Democracia nos Salários", incluído no livro de Alexis de Tocqueville " Da Democracia na América ", Trd. João Carlos Espada.

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" Muitas vezes, meu caro senhor, as aparências iludem, e quanto a pronunciar uma sentença sobre uma pessoa, o melhor é deixar que seja ela o seu próprio juiz. " Robert Walser

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