Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

" As horas " - Michael Cunningham

" Quantas vezes, depois disso, ela se perguntara o que poderia ter acontecido se tivesse tentado continuar com ele, se tivesse retribuído o beijo de Richard nas esquina da Bleecker com a MacDougal, partido com ele para qualquer lado( para onde?), se nunca tivesse comprado o pacote de incenso ou o casaco de alpaca com os botões do feitio de rosas. Não poderiam ter descoberto alguma coisa...maior e mais estranha do que aquilo que tinham? É impossível não imaginar esse outro futuro, esse futuro recusado, como tendo sido vivido em Itália ou França, entre grandes salas cheias de sol e como um imenso e duradouro romance assente numa amizade tão abrasadora e profunda que os acompanharia até à sepultura e, quem sabe, talvez mesmo para lá dela. Ela podia, pensa, ter entrado noutro mundo. Podia ter tido uma vida tão intensa e perigosa como a própria literatura.

David Bowie & Marianne Faithfull-"I got you Baby"

Ou, por outro lado, talvez não, pensa. Aquilo é quem eu era. Isto é quem eu sou: uma mulher decente com um bom apartamento, com um casamento estável e afectuoso, que vai dar uma festa. Aventura-te longe de mais no amor, lembra a si mesma, e renuncias à cidadania no pais que fizeste para ti. Acabas simplesmente a navegar de porto em porto.
Mesmo assim, há o sentimento de oportunidade perdida. Talvez nunca haja nada que possa igualar a recordação de terem sido jovens juntos. "


Excerto de " As horas ", de Michael Cunningham, Trd. Fernanda Pinto Rodrigues, Ed. Gradiva

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" Muitas vezes, meu caro senhor, as aparências iludem, e quanto a pronunciar uma sentença sobre uma pessoa, o melhor é deixar que seja ela o seu próprio juiz. " Robert Walser

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