«O tempo flui sempre como o rio: melancólico e equívoco a princípio, precipitando-se a si mesmo à medida que os anos vão passando. Como o rio, enreda-se entre as ulvas tenras e o musgo da infância. Como ele, despenha-se nos desfiladeiros e nas cascatas que assinalam o início da sua aceleração. Até aos vinte ou trinta anos, pensamos que o tempo é um rio infinito, uma substância estranha que se alimenta de si mesma e nunca se consome. Chega, porém, um momento em que o homem descobre a traição dos anos. Chega sempre um momento - o meu coincidiu com a morte da minha mãe - em que, de súbito, a juventude acaba e o tempo degela como um montão de neve atravessado por um raio. A partir desse momento, os dias e os anos começam a diminuir e o tempo converte-se num vapor efémero - como o que a neve desprende quando derrete - que a pouco e pouco envolve o coração, adormecendo-o. E, assim, quando queremos dar-nos conta, já é tarde para tentar sequer rebelar-nos.»
Excerto de " A chuva amarela ", de Julio Llamazares, Trd. António José Massano, Ed. Terramar
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