Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

" Colossal Youth " - Young Marble Giants

" Não, não é um tara, uma obsessão ou um ódio infundamentado pelo meu próprio sexo - desafio quem quer que seja, o chauvinista mais renitente, a tentar falar no novo Rock sem mencionar o nome de uma mulher. Claro, como reza o ditame, há sempre um homem por trás de cada grande mulher...
Por trás de Alison Statton, por exemplo, há dois. E são manos ( Philip e Stuart Moxham ). São os Young Marble Giants e o seu LP « Colossal Youth » é cristalino, como se Judy Collins virasse o miolo e quisesse transmitir a sua pureza em versão New Wave. Tudo é despido, fresco, como um cotovelo de voz descansando num ribeirinho de música. A voz de Alison é ténue, ligeira, quase inexistente. Mas é uma inexistência encantadora, porque não se esforça para interromper a sua passividade melancólica. A música dos Giants mergulha na mesma apatia melódica, frugal e deliciosa - como um pequeno almoço dum só «croissant». Aliás, este álbum é ideal para a manhãzinha, sobretudo quando se está de ressaca, porque age como um Alka-seltzer infantil com sabor a nêspera - não cura nem mata, mas tempera uma má disposição´. É a New Wave ecológica, natural, linda, minimalista. Se o álbum «Colossal Youth» fosse um iogurte (e, vendo bem, é isso mesmo ) seria elogiado pelo dr. Beja Santos E que melhor recomendação pode haver, digam-me ? "

Excerto da crónica " Gigantesde mármore príncipes e baus-baus", de Miguel Esteves Cardoso, publicada no jornal " Sete ", de 10/12/1980 e compilada no livro " Escrítica Pop ",Editorial Querco,1982.

Young Marble Giants -"Brand New Life"

O Milagre da subtracção *

Uma obra-prima perturba-nos, por definição, e " Colossal Youth " (1980 ) inquieta-me como mais nenhum disco o faz. Há qualquer coisa de verdadeiramente fantasmagórico que me asfixia e, ao mesmo tempo, me atrai. São 15 canções que deixam transparecer algo de transcendental, fazendo-me acreditar que este é "o" disco, um santo graal que jamais me explicará a razão deste feitiço. Na tentativa de tentar compreender a razão divina, consigo, em alguns momentos de fraqueza, analisá-lo friamente e desmontar a atracção. Afinal, não terá sido "Colossal Youth" apenas um golpe de sorte impossível?
Uma miragem colectiva do futuro pelos irmãos Moxham e menina Statton?
O acto pós-punk possível com uma âncora pesada em Cardiff?
Um milagre, então?
Seria tentador responder afirmativamente a algumas destas cínicas hipóteses, pois não houve segundo álbum, nem sequer um projecto seguinte tão fundamentalmente esclarecido quanto os Young Marble Giants; e basta ver " Live at the Hurrah " - de acordo com o mito, a única filmagem do grupo ao vivo que existe - para percebermos o estranho desconforto que exibiam ao tocar, como se a manipulação de todas as peças ( muitas delas dissonantes) fossem de equilíbrio insustentável.
Nenhuma conjectura acaba por ser relevante e até ajudam a condimentar o mistério, pois "Colossal Youth" será sempre um álbum perfeito, o tal inesperado milagre de quatro dias de estúdio e de canções gravadas no osso, com o mínimo de sons, mas com o máximo dos resultados. Todas essas canções foram pequenas sementes de música incorruptível de onde brotaram viçosas algumas das mais frondosas folhagens pop das últimas quase três décadas.
A importância desta reedição(álbum e restantes gravações laterais - mais sessão John Peel no terceiro disco da edição limitada) ultrapassa a simples organização histórica dos factos: é a definitiva prova da ressonância eterna que " Colossal Youth" teve e terá na história da música.

* Artigo de Pedro Santos, publicado na revista Op., de Setembro/2007, a propósito da reedição de " Colossal Youth ", pela Domino/Edel.

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