O natural de Barrô

Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

sábado, 27 de fevereiro de 2016

quinta-feira, 7 de julho de 2011

segunda-feira, 13 de junho de 2011

«A vida de uma pessoa consiste num conjunto de acontecimentos no qual o último poderia mesmo mudar o sentido de todo o conjunto, não porque conte mais do que os precedentes mas porque, uma vez incluídos na vida, os acontecimentos dispõem-se segundo uma ordem que não é cronológica mas que corresponde a uma arquitectura interna. Uma pessoa, por exemplo, lê na idade madura um livro importante para ela, que a faz dizer:«Como podia viver sem o ter lido!» e ainda:«Que pena não o ter lido quando era jovem!». Pois bem, estas afirmações não fazem muito sentido, sobretudo a segunda, porque a partir do momento em que ela leu aquele livro, a sua vida torna-se a vida de uma pessoa que leu aquele livro, e pouco importa que o tenha lido cedo ou tarde, porque até a vida que precede a leitura assume agora uma forma marcada por aquela leitura.»


Italo Calvino, “ Palomar”, Trd. João Reis
«As pessoas agarravam-se cegamente à primeira coisa que lhes aparecesse: comunismo, orgias, andar de bicicleta, erva, o catolicismo, halteres, viagens, o recolhimento, a comida vegetariana, a Índia, pintura, beber, andar por aí, iogurtes, congelados, Beethoven, Bach, Buda, Cristo, haxixe, sumo de cenoura, suicídio, roupas por medida, viajar de avião, Nova Iorque, e de repente tudo desaparece. As pessoas tinham de encontrar coisas para fazer enquanto esperavam pela morte. Acho que era bom podermos escolher.»



Charles Bukowski, “Mulheres”(1978), Trd. Fernando Luís
«Apesar de tudo, o homem tem tanto apego ao que existe, que prefere naturalmente suportar a sua imperfeição e a dor que causa a sua fealdade, em vez de aniquilar a fantasmagoria com um acto da sua própria vontade. E pode acontecer, também, que quando chegámos ao limite do desespero que precede o suicídio, por se ter esgotado o inventário de tudo o que é mau e se ter chegado ao ponto em que o mal é insuperável, qualquer elemento bom, por pequeno que seja, adquire um valor desproporcionado, acaba por tornar-se decisivo e aferramo-nos a ele como nos agarraríamos desesperadamente a qualquer erva ante o perigo de cair num abismo.»




Ernesto Sabato, “O Túnel”(1948), Trd. Iva Delgado
«Na época em que eu tinha amigos, eles riram-se muitas vezes da minha mania de escolher sempre os caminhos mais arrevesados: eu pergunto-me porque há-de a realidade ser simples? A minha experiência ensinou-me que, pelo contrário, quase nunca o é e que quando há algo que parece extraordinário, claro, uma acção que parece obedecer a uma causa simples, quase sempre há por baixo motivos mais complexos.»




Ernesto Sabato, “ O Túnel”(1948), trd. Iva Delgado
«Acendeu um charuto, limpou com o guardanapo o suor que lhe escorria da testa, desabotoou o primeiro botão da camisa e disse: as razões do coração são as mais importantes, é preciso seguir sempre as razões do coração, os dez mandamentos não dizem isto, mas digo-lho eu, mas é preciso ter os olhos abertos, apesar de tudo, coração sim, de acordo, mas também olhos bem abertos…»
« - É difícil ter certezas quando se fala das razões do coração, afirma Pereira.»




Antonio Tabucchi, “Afirma Pereira”, Trd. José Lima

Disorder

« - Tente nunca se apaixonar por um animal selvagem, Mr. Bell – aconselhou-o Holly. – Foi aí que o Doc errou. Estava sempre a trazer animais selvagens lá para casa. Um falcão com uma asa partida. Uma vez apareceu com um lince adulto a coxear. Mas não podemos confiar o coração a um animal selvagem: quanto mais lhe damos, mais forte fica. Até ter força suficiente para largar a correr para a floresta. Ou voar para uma árvore. E depois para uma árvore mais alta. E depois para o céu. É o que lhe vai acontecer, Mr. Bell, se se apaixonar por um animal selvagem. Acaba a olhar para o céu.»




Truman Capote, “Boneca de luxo”, Trd. Margarida Vale de Gato
«Cada um é feito daquilo que viveu e do modo como o viveu, e isto ninguém lho pode tirar. Quem viveu sofrendo, fica feito pelo seu sofrimento; se pretenderem tirar-lho, deixa de ser ele.»


Italo Calvino, “ Palomar”, Trd. João Reis

Heart and Soul

Isolation

Agustína Bessa-Luís - " Memórias Laurentinas "








« Há homens sós, mas não há mulheres sós; elas sempre encontram maneira de emparceirar com tudo o que não lhes oferece resistência, inclusive um deus.»


«As mulheres não reconhecem a glória senão nos filhos, nos amantes e nas coisas razoáveis da vida, como a chave de casa e do coração das amigas.»

«Um homem apaixonado, mesmo morto, convence mais do que cem poetas vivos. Digo isto porque os poetas nunca se apaixonam. São pessoas litigiosas e que seguem os caminhos da poesia para sequestrar a admiração dos outros.»

« - As mulheres gostam de quem as sustenta. Mesmo quando são ricas não sabem gastar o que é delas. Só sabem gastar o que é nosso.
- As mulheres gostam de dois tipos de homens: os que as despem e os que as vestem.»

«Os tempos eram rudes, e ainda são. Não me venham dizer que isto só acontece aqui, neste país folião e miserável, que não acontece. A Europa profunda ainda tinha trogloditas há pouco tempo, as crianças dormiam na palha e iam trabalhar aos sete anos. As coisas mudam tragicamente, ou não mudam. A habitualidade funciona como um travão e as leis levam uma eternidade a ser aceites e adequadas ao génio da mendicidade, que é mais poderoso do que se julga. Basta dizer que o génio da mendicidade vive em todo o lado, tanto no palácio como na barraca. Um político que queira ter sucesso tem que servir o génio da mendicidade; da sua camarilha, primeiro, depois dos ricos e do povo em geral. Tem de prometer aos que precisam e aos que não precisam. Tem de dar ou fingir que o fará; tem de viver com a dívida permanente do auxílio que não pode prestar, e lega aos seus sucessores a má-fé desse acordo com o génio da mendicidade que devora a alma do povo e não chega para acudir a todos os desastres que se acumulam sobre a cabeça dos cidadãos.»

sexta-feira, 3 de junho de 2011

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" Muitas vezes, meu caro senhor, as aparências iludem, e quanto a pronunciar uma sentença sobre uma pessoa, o melhor é deixar que seja ela o seu próprio juiz. " Robert Walser

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